13 de junho de 2011

Não quero rosas, desde que haja rosas



Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

(Fernando Pessoa - 07/01/1935)

26 de abril de 2011

A Injustiça dos Patos

Se tem uma coisa insuportável nesse mundo é a injustiça.



Quando a gente lê uma frase desse no início de post logo pensa que o assunto em questão é a fome e miséria no mundo, ou como são as reações das pessoas diante as catástrofes naturais. Não é, pois se fosse não seria tratar de somente a injustiça em sua forma mais pura, mas também seria tratar sobre hipocrisia.


Eu queria falar sobre as pequenas injustiças cometidas, aquelas que passam batido. Para algumas pessoas que tem blog, a injustiça é reconhecida quando você começa a escrever um post cheio de mágoa e revolta e apaga tudo antes de que alguém leia, mesmo que este alguém seja você mesmo. Veja, é só parar um minuto para pensar que a gente logo pensa em uma pequena injustiça.

Hoje de manhã, ao conversar como uma pessoa sobre os telefonemas do trabalho logo notei uma. Por mais que esta pessoa se esforçasse para atender o grande volume de ligações que a empresa recebe, nem de todos os problemas ela conseguia dar conta do recado, alguns até porque não são de sua responsabilidade e ela não ter conhecimento sobre o assunto. Ao tentar passar a ligação a pessoa recebe o recado de que o responsável pelo assunto não irá atender, por vários motivos, às vezes por não ter tempo, às vezes por estar com outra ligação, às vezes por no mesmo momento atender uma outra demanda. Perceba que não há culpados na história toda. Quando a primeira pessoa que atendeu a ligação tenta repassar o recado para aquele que ligou, este se revolta por não ter a solicitação imediatamente resolvida e despeja toda a frustração em cima da pessoa que atendeu. Fica sem resposta da mesma forma, desliga e retorna ligar mais tarde.

Uma pequena injustiça num caso de intolerância. Mas que ficou por isso mesmo, pois este caso se repete entre outros atores. Outros que atendem, outros que ligam e outros que estão ocupados demais. A questão é que a intolerância sobrou na história, tornando isso desnecessário.

As pessoas estão seguindo um padrão atualmente, o do imediatismo. Tudo é para já, não há porque planejar nada, fazemos tudo como dá e depois vamos acertando as bordas. Mas às vezes as bordas ficam curtas demais para serem acertadas. O imediatismo causa as pequenas injustiças, as frustrações e a intolerância. O ritmo é acelerado mas descoordenado.

Mas o pato caminha mesmo mancando e quando não conseguir mais, o destino é o forno.


Oh-ow...

2 de março de 2011

O Castelinho e o Apfelstrudel

Acontece que hoje esfriou e choveu, e eu adoro esse clima. O meu cérebro imediatamente linkou tudo com a viagem a Gramado/Canela e eu me lembrei do Apfelstrudel que comi por lá, num roteiro bem interessante. Mas quando postei isso no meu twitter notei que algumas pessoas não sabiam do que se tratava. Strudel é assim: sabe a tortinha de maçã do McDonald's ... então, ela tenta imitar a receita. Mas não chega aos pés do Apfelstrudel preparado por uma vovó alemã num fogão a lenha e é até uma heresia minha compará-lo ao da fast food.

Vocês não tem noção de como derrete na boca. #vaigordinha

Obs: Foto mais parecida que o Google me retornou na pesquisa. Mas não é o de lá!

O lugar onde eu visitei em Canela é tão peculiar quanto o doce. Trata-se do Castelinho do Caracol ( http://www.castelinhocaracol.com.br ), uma casa construída em madeira de araucária (por lá tem muito) encaixada, isso mesmo, não tem nenhum preguinho. Além disso, no site tem umas outras informações muito legais sobre sua construção. A casa da família Franzen guarda as mobílias antigas e hoje é um museu aberto a visitação.

Dois andares e nenhum prego, você é doido de entrar aí.

Chegamos lá antes das nove horas, e por isso ainda estava fechado. Eu e a Dani (minha irmã, companheira de aventuras) fomos andar pelos arredores da casa. Encontramos máquinas antigas de moer, carroças com feno, e uma lojinha. Mas olhando mais adiante, achamos o canil, uma plantação linda de hortaliças e, como não podia faltar, videiras com frutas. Nós tivemos sorte de ir na época da colheita das uvas. Claro, que tudo aquilo, não era para os turistas (só para os xeretas), então voltamos para poder visitar a casa.

Assim que você entra na casa, o cheiro de Apfelstrudel te invade. Não é aquele cheiro incômodo, como quando você entra numa loja de artefatos hindus e é quase expulso por algum incenso doce. (detalhe: há incensos ótimos) Eu comparei o cheiro mais ao "parece que a minha avó tá cozinhando algo gostoso na cozinha".


Aí, você olha para um lado e vê uma mesa de jantar linda, com um jogo de chá trabalhado e cada coisa na sala de jantar no lugar. Os cômodos lá são fechados e ninguém entra. Nós ficamos só observando da porta. Mas a casa toda é uma coisa tão incrível que você não precisa tocar. Bastam alguns minutos lá dentro e a história da família Franzen passa a ser parte da sua história também.


Vocês repararam nas velas para iluminar a partitura?
No segundo andar da casa, onde tem o ateliê de costura e o quarto, as coisas das crianças você até consegue sentir a presença das pessoas ali, de como elas passaram o dia a dia. Dá até um friozinho na barriga como se você pudesse ver fantasmas. Mas não causa medo, pois a gente se sente benvindo e acolhido ali.


Além disso, a Dani brincou comigo que nós até parecíamos com as pessoas das fotos. Isso foi engraçado pois ela tinha mesmo razão. No fim do passeio, quando sentamos no ônibus para ir para o próximo lugar de visitação, eu fiquei me perguntando sobre quem poderia imaginar que uma vida simples, com sua família poderia virar um museu.


21 de fevereiro de 2011

Adele


Conheci Adele por acaso, a primeira música que ouvi dela foi Chasing Pavements, foi uma feliz indicação do site Last.fm. Ele cruzou as referências da minha preferência por Amy Winehouse, Duffy, Joss Stone, Ella Fitzgerald, e algumas outras e me indicou que eu escutasse Adele.

Quando ouvi o CD intitulado 19, gostei logo de cara. Já conhecia algumas canções como Cold Shoulder, mas as demais também me agradaram muito. E então, Adele passou a fazer parte dos meus dias na playlist.

Esta ano aguardei, pelo seu CD novo, intitulado 21. Os álbuns da Adele são intitulados de acordo com a idade qual ela gravou as faixas. As músicas são melancólicas, que ela mesma escreve com o que sente no momento. 

Adele diz que se estivesse feliz, num relacionamento, ela não teria tempo para a música, ela usaria este tempo para viver a felicidade. É um sentimento meio contraditório como apreciadora de sua música torcer para que as coisas dêem certo para ela, mas eu torço mesmo assim. (rss)


 21 é simplesmente apaixonante.

18 de fevereiro de 2011

Antagonistas


Dizem por aí que todos gostam dos mocinhos, e constroem vilões para isso. Não são vilões tão simples, mas são personagens que pisam no ponto mais fraco que há em nós e os odiamos, pelos simples fato deles mostrarem o quão frágil somos. Os mocinhos são os perfeitos da história. Para eles, nada é impossível e não há algo que eles não possam enfrentar e sair vencedores.

Eu prefiro os antagonistas. Estes não são os seres perfeitos que te acompanharão nos seus sonhos impossíveis e viagens de perfeição. Os antagonistas vão te questionar, se aquilo tudo é tão perfeito assim e vão te mostrar outra visão. Pode até ser uma visão deturpada como a visão de um vilão que pode te prejudicar, simplesmente pelo fato de questionar, mas é importante mesmo assim. Um antagonista não é nem mocinho e nem vilão. Ele simplesmente se opõe.

Algumas pessoas quando são questionadas agem por instinto e partem para a defensiva, afinal é mais fácil falar com a pessoa de personalidade totalmente contra ou a favor, mas é difícil ser questionado. É complicado tentar ver o mundo de um ângulo diferente do que aquele que circula o próprio umbigo.

Quando isso acontece, a palavra antagonista aparece piscando diante dos meus olhos. Para dizer a verdade, ela pisca em um lugar meio escondido, entre o osso da minha testa e minha meninge. Mas eu consigo visualizá-la claramente. O que me leva a respirar para tomar tempo, cerca de segundos, e tentar refletir no porque de ser questionada e no que aquela mensagem passada pelo antagonista mexe com as coisas que eu sei e que fazem parte da minha personalidade.

Antes disto, (porque é uma coisa a ser treinada) daria respostas curtas, sem tentar expor muito como aquilo se confrontou dentro do meu cérebro. Depois eu passei a rebater as perguntas, para saber o que motivara o antagonista a me questionar. E agora, às vezes, me torno a antagonista do antagonista.
Essas personalidades coexistem em todos, a de mocinho, vilão e antagonista.

Qual usar hoje?

6 de fevereiro de 2011

A Fábula dos Patos


Quando se deu conta de sua existência, Tunico, o patinho, achava que morava em um bom lugar. Lá ele e seus irmãozinhos eram felizes mesmo com a simplicidade do local. Senhor José, o dono do sítio onde Tunico morava era um homem carismático e cheio de sorrisos. O sítio era bem simples, lá não havia muita tecnologia e nem fertilizante nas plantas da horta.
Algumas patas diziam que ter fertilizante na horta seria bom, as plantas cresceriam mais fortes e grandes, isso faria com que Senhor José jogasse o as sobras para os patos. Tunico, no entanto, não se importava. Ele estava feliz com a ração que tinha e gostava de ficar ali no pequeno lago. A mamãe pata também gostava de Tunico e o protegia quando ele sentia medo da chuva.
O tempo passou e Tunico cresceu. Ele percebeu que conforme crescia o lago diminuía. Conseguia notar que o lago do sítio vizinho era maior e curioso perguntou a mamãe pata o que ela achava do outro lago. A mamãe pata disse que era mesmo um lago lindo, que gostaria de nadar ali um dia, mas avisou Tunico que, apesar do lago ser maior do outro lado, os patos ainda seriam patos.
Pelo que Tunico percebeu, os patos do vizinho eram patos como ele, mas eram mais bem tratados. Eles comiam plantas da horta que eram jogadas pelo Senhor Luís, o dono do sítio vizinho, o sítio era maior e tinha mais recursos. Ele pensou que ser tratado assim era muito bom.
Certo dia, o Senhor José vendeu seu sítio ao Senhor Luís e este foi o ponto de discórdia entre os patos. Alguns se negavam a passar do lago pequeno para o lago maior, outros queriam ir logo. Todos estavam ansiosos para saber o que aconteceria. O Senhor Luís então tirou a cerca entre os lagos e os patos podiam passear livremente entre os dois. Tunico partiu assim que conseguiu para o lago maior, diferente dos patos mais velhos, ele queria experimentar a sensação de ter um espaço maior para nadar. Ele ficou amigo dos outros patos e gostou do lugar, realmente aquela foi uma boa mudança para ele.
Porém, quando o Senhor Luis foi jogar hortaliças aos patos, aconteceu uma situação curiosa. Entre os patos que eram do Senhor José, os antigos achavam que tinham o direito de se fartar mais que os patos mais novos. O Senhor Luis jogava hortaliças a todos, de forma aleatória, os patos antigos proibiram os mais novos de comer qualquer tipo de hortaliça e também não comiam em protesto. Nenhum dos patos que eram do Senhor José comia hortaliças.
Tunico ficou chateado por ter que comer ração, mesmo que o Senhor Luis lhe oferecesse hortaliças. Mas ele não tinha a opção de desobedecer aos antigos e o Senhor Luis não ficou ciente do ocorrido. Os novos amigos patos de Tunico também acharam aquilo injusto, mas nenhum sabia de opção para fazer o Senhor Luis perceber o evento curioso. Um amigo pato, mais sábio que Tunico, o alertou do fato de que o Senhor Luis assava um pato de tempos em tempos e então não era saudável sobressair ao bando.
Tunico então se calou, ele não tinha hortaliças, mas podia nadar num lago maior. Afinal era só um pato, como todos os outros.